Neopentecostalismo: uma análise apologética

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Por Leonardo G. Silva - Th.M.


Nos nossos dias, juntamente com as doutrinas pentecostais têm surgido muitas doutrinas paralelas, como a chamada Confissão Positiva, que inclui o Evangelho da Saúde e da Prosperidade, a Quebra de Maldições, as Maldições Hereditárias, Maldição de Família e Pecado de Geração, Nova Unção; apregoadas por supostos avivalistas em acampamentos cristãos, em congressos, em escolas bíblicas de férias, através da mídia e por mentores católicos carismáticos que promovem as doutrinas do Toque do Dom, da Cura Diferencial e do Exorcismo. Todos estes “teólogos”, sem nenhuma consulta a exegese bíblica, sem possuir alicerces ou filtro teológico, ensinam sempre sob a orientação filosófica de seu pai, Essek William Kenyon e de seus principais porta-vozes, Kenneth Hagin, Marilyn Hickey, Kenneth Copeland, Robert Schüller, Jorge Tadeu e outros.

O movimento neo-pentecostal chegou no Brasil na década de 70, e como já foi dito no capítulo anterior, embora seja possível estabelecer uma símile entre o pentecostalismo e o neo-pentecostalismo, as diferenças entre esses dois grupos protestantes são maiores que qualquer semelhança que possam ter.

Apesar de não contar com o apoio das denominações cristãs históricas, muitos princípios do neo-pentecostalismo têm sido abraçados por obreiros e líderes de igrejas tradicionais e históricas, que por falta de conhecimento teológico pensam que estão promovendo um avivamento em suas suas igrejas, quando na verdade seus ensinos são um câncer no seio do cristianismo. Uma das principais características do movimento neo-pentecostal é a sua excessiva ênfase na necessidade de sinais que comprovem a autenticidade da palavra pregada, mas o que estes pregadores “sinaleiros” esquecem é que essa incansável busca por uma materialização do imaterial e toda essa ênfase na experiência sensível é uma das características marcantes de uma geração que Jesus chamou de má e incrédula (cf. Mateus 12.38-39).


História do Movimento Neo-pentecostal.

Muitas pessoas no movimento consideram Kenneth Hagin como o pai do neo-pentecostalismo, de modo que muitos pregadores da prosperidade – inclusive os brasileiros – se consideram discípulos de Hagin. Porém, uma investigação mais minuciosa da história dessa corrente teológica contemporânea, leva-nos à concluir que o verdadeiro pai da confissão positiva é Essek William Kenyon.

Kenyon nasceu no condado de Saratoga em Nova York, Estados Unidos, no ano de 1867. Em 1892, mudou-se para Boston, onde freqüentou várias escolas, entre elas a Faculdade Emerson de Oratória, fundada por Charles Emerson. Esse Charles Emerson, segundo se sabe, foi um pensador confuso com tendencias sincretistas, que chegou a abraçar inclusive muitos ensinos de seitas heréticas, como por exemplo a Ciência Cristã, que à bem da verdade, não é nem ciência nem cristã. É muito importante saber quem foi Charles Emerson para se compreender a hermenêutica de Kenyon, pois que ele exerceu sobre Kenyon foi um fator decisivo no rumo que tomou a teologia neo-pentecostal, tambem conhecida como movimento da confissão positiva.

Em Super Crentes, O professor do Makenzie e apologista da AGIR, Paulo Romeiro, escreve o seguinte acerca de Emerson:

“Charles Emerson foi uma figura um tanto contriversa. Em seus 40 anos de ministério, a teologia de Emerson evoluiu do congregacionalismo para o universalismo, para o unitarismo, para o transcendentalismo, para o Novo Pensamento (Nova Idéia), e terminou, finalmente, nas mais rígidas e dogmáticas de todas as seitas metafísicas, a Ciência Cristã. Emerson uniu-se à Ciência Cristã em 1903 permaneceu envolvido com essa seita até sua morte, em 1908. Sua conversão à Ciência Cristã foi a última progressão lógica na sua evolução metafísica do ortodoxo para o sectário”.

No dia 19 de março de 1948, com a idade de 80 anos, Kenyon faleceu, mas antes de sua morte, encarregou sua filha Rute de continuar o seu ministério e publicar os seus escritos, o que ela cumpriu fielmente. Mais tarde, alguém utilizaria as idéias e os escritos de Kenyon para dar forma ao que viria a ser um dos maiores e mais controvertidos movimentos dentro do corpo de Cristo da atualidade. Esta pessoa é o já citado Kenneth Erwin Hagin.

A história de Kenneth Hagin é cheia de supostas aparições, revelações e experiências místicas, dentre as quais duas delas teriam afetado toda a sua vida e ministério. Hagin diz ter sido “levado ao inferno”, onde supostamente viu e sentiu coisas que o deixaram perplexo. Hagin conta ter descido outras duas vezes “ao inferno” para ali contemplar os seus horrores, sendo assim levado a tomar uma decisão quanto a sua vida espiritual. Depois da terceira “visita ao inferno”, Hagin aceitou a Cristo como seu Salvador.

No início do seu ministério, entre 1934 e 1937, Hagin foi um jovem pregador batista e pastoreou uma igreja da comunidade onde morava. Devido à sua crença em cura divina, começou a associar-se com os pentecostais e em 1937, recebeu o batismo com Espírito Santo e falou em línguas. Neste mesmo ano foi licenciado como ministro da Assembléia de Deus, na qual permaneceu de 1937 a 1949, havendo pastoreou várias igrejas dessa denominação no Estado do Texas. Tendo passado por essas duas denominações, finalmente fundou, em 1962, seu próprio ministério.

O ministério de Kenneth Hagin é hoje um dos maiores do mundo e sua influência tem se espalhado por muitas partes do globo. Fundou em Tusla, em 1974, a Escola Bíblica por Correspondência Rhema e o Centro de Treinamento Bíblico Rhema. Segundo dados coletados no livro do professor Paulo Romeiro, a Escola Bíblica de Hagin já formou cerca de 6.600 alunos. A revista Word of Faith (Palavra da Fé), que também pertence ao movimento, é enviada para 190 mil lares mensalmente e calcula-se que cerca de 20 mil fitas cassete de estudos são distribuídas a cada mês. Já foram vendidos cerca de 33 milhões de cópias de seus 126 livros e panfletos. Os bens da organização estão avaliados em 20 milhões de dólares e o missionário R.R. Soares, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus, é o responsável pela publicação da maioria dos livros de Kenneth Hagin no Brasil.

Além de Essek W. Kenyon e Kenneth Hagin, os nomes mais conhecidos ligados à confissão positiva são Ken Hagin Jr. (filho de Kenneth Hagin), Kenneth e Glória Copeland, T. L. Osborn, Fred Price, Hobart Freeman, Charles Capps, Jerry Savelle, John Osteen, Benny Hinn e Lester Sumrall. Outra pessoa que tem influenciado muitos no Brasil é o engenheiro Jorge Tadeu, hoje pastor e líder das igrejas Maná, em Portugal. Pode ser citado ainda o ministério de Miguel Ângelo da Silva Ferreira, pastor da Igreja Evangélica Cristo Vive, no Rio de Janeiro, além do líder da IURD, Edir Macedo e o presidente da Igreja Internacional da Graça de Deus, missionário R.R. Soares.


Pressuposições da Doutrina da Prosperidade

É muito difícil enumerar os pressupostos do neopentecostalismo, visto que existem diversas denominações neo-pentecostais e todas possuem sistema doutrinario eclético, diferindo umas das outras. Nos limitaremos, portanto, a destacar algumas práticas dos principais grupos neo-pentecostais.

A marca registrada das igrejas neo-pentecostais no Brasil tem sido a ávidez por dinheiro. Escandalos envolvendo o Bispo da IURD, Edir Macedo e recentemente com o bispo Estevão Hernandes e sua esposa, a também bispa Sônia Hernandes, da igreja Renascer, têm se tornado corriqueiros. Não é nossa intenção inquerir até que ponto a arrecadação feita nas denominações é lícita. Apenas queremos chamar a atenção para algo que se tornou o principal enfoque do neo-pentecostalismo: a teologia da prosperidade.

Segundo essa abordagem teológica, pobreza e enfermidade são características de uma vida sem fé. A doença tem sua origem na falta de comunhão com Deus, de modo que um indivíduo realmente convertido nunca deve ficar doente. Os pregadores dessa doutrina geralmente baseiam a cura divina na expiação efetuada por Cristo, usando para isso o texto de Isaías 53.4-5. Segundo eles, a prosperidade financeira também é um direito do crente, sendo a pobreza uma maldição. Para justificar o disparate, afirmam que Jesus era um homem rico – bem como a maioria de seus discípulos – porém, até onde somos informados pela Bíblia, que é a principal autoridade e o mais confiável relato da vida de Jesus, o Filho do Homem muitas vezes não tinha sequer onde reclinar a cabeça. Para o Dr. Serafim Isidoro, em seu pequeno porém inteligente livro Considerações à Doutrina da Prosperidade, o Novo Testamento traz em seu cerne uma mensagem de abnegação, enquanto no Antigo Testamento a promessa é de prosperidade advinda da obediência. Ele também diz que “a busca do sensacionalismo e da prosperidade facil afasta o homem da ordem antiga: Comerás o pão do suor do teu rosto”.

Os porta-vozes da doutrina da prosperidade não medem esforços para conseguir arrecadações. Bob Tilton, que já esteve no Brasil acompanhado de Rex Humbard, é uma figura extremamente controvertida hoje nos Estados Unidos, principalmente pelos seus métodos de levantamento de fundos, chegando até mesmo a chorar e a profetizar enquanto pede dinheiro no seu programa de televisão. O mesmo pode ser visto durante as campanhas financeiras promovidas pela rede de TV Enlace. Durante essas campanhas é muito comum ver o diretor do programa acompanhado por algumas de suas “estrelas”, orando e profetizando bençãos sobre a vida daqueles que fizeram doações, declando sobre eles uma prosperidade milagrosa. Após essa oração mesclada com profecias obviamente carnais, uma enorme pilha de papéis com os nomes dos doadores é ungida com óleo, prática essa que diga-se de passagem não possui nenhum apoio bíblico, pois tal unção no Novo Testamento é exclusiva para os enfermos. Em seguida, as cameras enfocam um grupo de músicos, cantores e dançarinos que começaram a saltar enquanto caia uma verdadeira chuva de bolas de aniversário, num ambiente que mais parecia uma festa de aniversário que um culto religioso.

Não há dúvida de que o movimento da fé tem em Benny Hinn, pastor do Centro Cristão de Orlando, na Flórida, um de seus nomes mais famosos. Seu livro, Bom Dia, Espírito Santo, é um dos mais vendidos hoje na América do Norte. Porém, tanto o livro de Hinn como seus ensinos têm levantado muita polêmica, como, por exemplo, o estudo acerca do “corpo” do Espírito Santo, e a própria oração dirigida ao Espírito Santo, o que não é uma formúla bíblica de orar. Em nenhuma passagem do Novo Testamento vemos Jesus, os apóstolos ou qualquer outro crente orando ao Espírito, o que é uma evidencia definitiva de que essa prática não é, de modo nenhum, uma prática bíblica.

Não faz muito tempo, Hinn levou os membros de sua igreja a repetir depois dele a seguinte frase: “Eu sou um deus-homem”. O vídeo consta nos arquivos do ICP e o episódio é citado por Paulo Romeiro em Super Crentes. O boletim The Berean Call (O Chamado dos Bereanos) publicou em setembro de 1992, os seguintes comentários de Hinn a respeito de Adão e Eva: “Adão era um ser sobre-humano quando Deus o criou. Não sei se as pessoas chegam a saber disso, mas ele foi o primeiro super-homem que já existiu. Adão não só voava [como os pássaros], mas também voava para o espaço (...) com um pensamento ele estaria na Lua (...) podia nadar [debaixo d'água] sem perder o fôlego, e sua esposa fazia o mesmo (...) Ambos eram sobre-humanos”. A capacidade imaginativa de Hinn é tão perspicaz que não exitariamos em recomendar sua “história” à Walt Disney Pictures. No ano de 1992, o jornal das Assembléias de Deus, Mensageiro da Paz, publicou uma nota sobre Benny Hinn: “O livro Bom Dia, Espírito Santo, de Benny Hinn, está causando celeuma nos Estados Unidos. Ele passa a idéia de que existem nove deuses na Trindade. O autor se justifica afirmando que não soube explicar bem o que queria dizer”. Afirmações como essas fazem de Hinn o mais abobreiros de todos os profetas do óbvio que integram o movimento da confissão positiva.

Na Igreja Universal do Reino de Deus, fundada pelo bispo Edir Macedo, podemos encontrar muitos pressupostos do “movimento da fé”. A ênfase sobre a prosperidade financeira é bastante acentuada, mas a semelhança com as práticas iconoclasticas da idade média é evidente: Substituindo a idolatria por metodologias visuais e palpáveis, a denominação faz uso de rosas, copos com água, medalhas com inscrições, cruzes, lenços, retalhos dos ternos usados pelos pastores (será que eles rasgam o Armani do Bispo Macedo também?), lenços, portais da felicidade, réplicas da Arca do Concerto, além de objetos sem nenhum valor financeiro, supostamente importados de Israel, tais como água do Jordão e azeite para unção. É obvio que esses objetos são comercializados por ele e são uma importante fonte de renda para a denominação.

Valnice Milhomens também tem aderido à muitas práticas neopentecostais. Entre seus ensinos mais controversos está o seu comentário de Is 53:9, onde afirma que Jesus morreu duas vezes: física e espiritualmente, bem como a afirmação de que o número dos salvos será maior do que o número dos perdidos e a sua defesa da doutrina da guarda do sábado. Ela também prega a existência das maldições de família e a necessidade de ruptura das mesmas. Além destas, há ainda questões escatológicas, como a volta de Jesus num dia de sábado no ano 2007, profecia que – diga-se de passagem, não se cumpriu. Valnice, ao que consta, ainda não se manifestou publicamente sobre sua profecia escatológica espúria.

Os pregadores neo-pentecostais também ensinam que a fé e o recebimento das bençãos de Deus está relacionada com a confissão que fazemos, de modo que a fé é reduzida à uma mera confissão positiva. Por causa disso, muitos membros dessas igrejas vivem frustrados, pois temem pronunciar palavras que interfiram em seu progresso espiritual. A cura física também deve ser pronunciada, ou ainda, utilizando um jargão próprio do neo-pentecostalismo, “decretada”. É comum assistir na TV pregadores da Prosperidade ensinando os crentes a dar ordens em Deus. O Senhor Soberano foi substituído por um Deus vassalo, sempre disposto à acatar ordens e a fazer tudo sem reclamar.


Objeções ao neo-pentecostalismo

John Ankerberg e John Weldon nos ajudam a interpretar o texto de Isaías 53:4-5 com o seguinte comentário: “No hebraico a palavra sarar (em hebraico, rapha), pode-se referir à cura física ou à cura espiritual. O contexto deve determinar se um dos sentidos ou ambos são empregados”. Por exemplo, em 1 Pedro 2:24, o apóstolo se refere à cura espiritual (citando a Septuaginta), e em Mateus 8:17, Mateus se refere à cura física (citando o texto hebraico massorético). Paulo Romeiro também nos adverte que “não podemos esquecer que quando Jesus curou a sogra de Pedro (Mateus 8.14-17), a expiação de Cristo ainda não havia acontecido. Portanto, usar esta passagem para dizer que a cura divina, total e perfeita, está garantida na expiação com base em Isaías 53.4 e 5 é forçar o texto e não reflete uma boa exegese”. Ele também afirma que dizer que a enfermidade é conseqüência da falta de fé ou pecado na vida do crente é heresia. “Basta examinar as Escrituras para notarmos que verdadeiros servos de Deus passaram privações e dificuldades em suas trajetórias a serviço do Senhor”. Para ratificar sua asserção, ele menciona o profeta Eliseu, que apesar de ter sido um grande profeta de Deus e de ter tido um ministério marcado por muitos feitos sobrenaturais, morreu em conseqüência de sua enfermidade. Será que ele não tinha fé ou estava em pecado? Muito pelo contrário, pois a Bíblia diz que um soldado morto, após ser colocado na sepultura de Eliseu, tocou em seus ossos e ressuscitou (2 Reis 13.14-21). Um outro exemplo citado por ele é o de Jó. Seu sofrimento não foi causado por confissões pessimistas, pecados ocultos ou falta de fé, nem tampouco foi o diabo quem decidiu provar Jó. A iniciativa partiu de Deus.

Os pregadores da confissão positiva declaram que toda enfermidade procede do diabo. O pastor Jorge Tadeu, líder das igrejas Maná, em Portugal, afirma que “Deus só pode dar o que Ele tem. Para Deus lhe dar uma doença teria que pedi-la emprestada ao diabo, o que é uma idéia absurda”, mas o ensino de Jorge Tadeu é contrário ao que diz a Bíblia. Por acaso Deus teve que tomar a lepra emprestada do diabo para colocá-la em Miriã? A lepra de Miriã foi provocada por Deus, conforme lemos em Números 12.10

Existe nos Estados Unidos muitos casos documentados de mortes causadas pela pretensa fé. Supostamente baseados nas promessas de Deus, muitos pais perderam seus filhos para enfermidades que poderiam ser facilmente medicadas. O ministério das igrejas Maná, também não escapou das críticas da imprensa em Portugal. O jornal Tal & Qual, na edição de 30 de agosto a 5 de setembro de 1991, faz uma séria denúncia de primeira página sobre as circunstâncias que levaram ao falecimento do pequeno Nelson Marta, de oito anos, ocorrido em 13 de maio de 1991. “Mas que Grande Seita! Deixem de tomar remédios! — aconselha a seita religiosa Maná. Mas a morte de uma criança acaba de pôr em causa o insólito mandamento”.


Logos e Rhema, a polêmica da semântica

Segundo Michael Horton, não existe nenhuma grande diferença entre estes dois vocábulos, que seriam como os sinônimos “enorme” e “imenso” no português. Acontece que os ensinadores da fé inventavam uma falsa distinção de significado entre essas duas palavras gregas. Rhema, dizem eles, é a “palavra'” que os crentes usam para “decretar” ou “declarar” a fim de trazer prosperidade ou cura para esta dimensão. Em uma linguagem mais coloquial, o vocábulo rhema é o “abracadabra” que os neo-pentecostais pronunciam para materializar o objeto desejado. Depois vem logos, ou “a palavra de revelação” que é a palavra mística, direta, que Deus fala aos iniciados. O termo pode referir-se também a Bíblia, mas é geralmente empregado no contexto de sonhos, visões e comunicações particulares entre Deus e seu “agente”. Dessa forma, podemos perceber no movimento neo-pentecostal duas fontes de autoridade: uma objetiva – a Bíblia, e outra subjetiva, a revelação ou palavra da fé. Assim, quando alguém lê uma referência na literatura de um pregador neo-pentecostal acerca da “Palavra de Deus”, ou sobre “agir segundo a Palavra”, o autor pode não estar se referindo à Palavra de Deus escrita, mas ao seu próprio “decreto” (rhema) ou uma palavra pessoal de Deus para ele (logos).

Os apologistas da confissão positiva fazem um cavalo de batalha sobre as palavras gregas logos e rhema, que como já vimos, são sinônimas e ambas significam palavra. Para eles, rhema seria uma espécie de “vara de condão” capaz de materializar o objeto da nossa cobiça. Desta forma, eles afirmam que podemos usar a palavra rhema para realizarmos no mundo espiritual e físico tudo aquilo que desejamos. Entretanto, na Palavra de Deus não há sequer uma distinção teológica entre estes dois termos.

O Dr. Russel Shedd afirma que Pedro não fez distinção sobre estes termos em sua primeira carta, citando para isso o capítulo 1.23-25: "Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra (Gr. logos) de Deus, viva que permanece para sempre. Porque toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; Mas a palavra (Gr. rhema) do Senhor permanece para sempre; e esta é a palavra (Gr. rhema) que entre vós foi evangelizada". Como se pode ver, na mente do apóstolo não havia distinção entre estas palavras. Sendo assim fica desfeita a pretensão daqueles que querem forçar uma interpretação e aplicação errônea destes termos para apoiar qualquer doutrina de confissão positiva.


Conclusão

O neo-pentecostalismo quando examinado à luz da ortodoxia é uma teologia mal elaborada, eclético-pragmática que busca os resultados mais que a pureza doutrinaria. Ela desvirtua o crente, levando-o a buscar a prosperidade terrena, quando a prioridade dele deveria ser “buscar as coisas que são do alto” (Colossenses 3.2). Cristo, alardeado pelos teólogos da prosperidade como um homem abastado, nasceu humilde e pobre, em um estábulo emprestado. Entrou no mundo desassistido de bens materiais e proferiu suas pregações em um barco emprestado. Entrou em Jerusalém montado em um jumento emprestado, e foi sepultado em um túmulo emprestado. Só a cruz era dele.

Em sua mensagem ele nos falou sobre a necessidade de negar-se a si mesmo e tomar a cruz. Foi ele quem disse: “No mundo, tereis aflições”. Tempos depois o apóstolo Paulo escreveria aos Coríntios: “se esperamos em Cristo só nessa vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Coríntios 15.19). A mensagem triunfalista dos pregadores da prosperidade pode até caber em um discurso político onde a avareza prima sobre o caráter, mas não cabe nos lábios de Cristo ou dos apóstolos, e nem na verdadeira igreja evangélica.


Bibliografia

CONN, Harvie M. Teologia Contemporânea.
HODERN, William. Teologia Contemporânea; tradução Roque Monteiro de Andrade – São Paulo: Editora Hagnos, 2003.
ISIDORO, Serafim. Considerações à Doutrina da Prosperidade, Edições Archês.
ROMEIRO, Paulo. Super-Crentes: O Evangelho Segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os Profetas da Prosperidade – São Paulo: Mundo Cristão, 1998. 7ª Edição.

Também foram utilizados artigos publicados em sites especializados como ICP, CACP, AGIR e LOGOS.

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Fonte: Púlpito Cristão


Sobre o autor:

Esposo, pai, missionário e teólogo, Leonardo é Bacharel em Teologia e Missiologia, e mestre em teologia com especialização em Teologia Sistemática e Filosofia da Religião. É membro da OTEB - Ordem dos Teólogos Evangélicos do Brasil, e da OTEAL - Ordem dos Teólogos Evangélicos da América Latina. Atualmente reside na cidade de Piura, no norte do Peru.

Edita um blog de grande audiência chamado Pulpito Cristão, onde denuncia os modismos, as heresias e os extremismos da igreja contemporânea.